quinta-feira, 19 de junho de 2014

Entrevista: Whógenor Sales (blog Licor de Chorume).

Fizemos essa pequena entrevista com o responsável pelos honorários no blog Licor de Chorume, em julho do ano passado. A publicação veio tardia porque a ideia, em princípio, vejam só, era encaixá-la num possível zine que nunca saiu e, se por um acaso for, vai demorar. Pra não deixar a coisa esfacelar no tempo seguem aí, 5 perguntas - repito, pouco, mas era o que o impresso comportaria - feitas ao letrista mór, namorado da Nati, gente fina e tapeteiro do Fluminense, Whógenor Sales. 



1. Primeiro, as nossas honestas congratulações pelo ilustríssimo serviço prestado ao barulho nos subterrâneos do Brasil. Fala aí o que te estimulou a começar com o Licor de Chorume, se é uma cria só sua ou há mais gente envolvida, alguma influência/referência que te motivou/motiva, etc.

Primeiramente obrigado pelo ousado convite de entrevistar este lasco de gente, e o blog surgiu a partir da ideia do Josias (que hoje reside em Porto Velho/RO) de criar um blog que reunisse as bandas nacionais que não encontrávamos em blogs e tudo mais. Ele veio com o nome e a proposta de postar cinco bandas, uma da cada região do país por mês, eu surgi com a ideia do humor, slogan, logotipo... tudo decidido e acordado entre nós dois em reuniões vagabundas no famigerado Bar da Tia. As influências são várias, mas destaco o Mozine (Läjä Rex), o povo nordestino, as almas perdidas (que são verdadeiros encostos de distribuidoras e botecos sujos), a música brega, o Distrito Zero (Diário da Manhã), Jornal Meia-Hora, Jornal Daqui e os livros de simpatia.


2. É impressionante como nada passa em branco pelo blog. Você consegue retratar com uma abrangência enorme tudo o que acontece de canto a canto do país, o que eu acho bem legal e necessário. Mesmo abraçando a diversidade, existe algum critério na escolha das bandas postadas?


Pô mano, massa que você curte essa cabarezagem toda, e como eu disse antes, a ideia era postar uma banda de cada região do país por mês, só que nos primeiros dias de postagens o cronograma foi pro pau, eu me empolguei e comecei a postar muitas bandas (risos). Na época a gente priorizava os sons que gostávamos, com o passar do tempo o circulo foi ampliando, bandas de vários lugares começaram a enviar materiais pra resenhas, e desde então priorizamos mais as bandas que entram em contato conosco, e tipo, se existe uma bandinha de hardcore/punk/metal que gravou a demo no fundo de casa da forma mais tosca e caseira possível, a gente vai ouvir o som, sacar a ideia do pessoal e postar na humildade mesmo, servindo talvez de incentivo para que essas pessoas continuem nessa luta e que outras vejam o exemplo e tomem coragem pra montar suas bandas. Sei que existe muito blog por aí, mas são poucos que abrem espaço pra este tipo de banda que ninguém conhece, e o nosso é um desses sítios, que posta banda que ninguém posta/gosta.


 3. Sua mãe vem de Exú e seu irmão é ninguém menos que o Bacural. Até que ponto a convivência com estas duas figuras reflete na linguagem e no conteúdo do blog?

Faltou citar que meu pai é do Codó/MA, então já dá pra saber que mexer com este cabra aqui não é coisa muito lucrativa (risos). Bom, como minha criação foi uma mescla da cultura nordestina com as peculiaridades desta Goiânia provinciana, foi meio que inevitável essa bagunça linguística ter interferido nas resenhas do blog. Já meu irmão foi fundamental nesse processo de criação do sítio (mesmo sem ele saber disso, risos), pois foi ele quem me apresentou o punk, o hardcore, os zines e todo esse mundo torto que é o underground, portanto, a influência dele parte mais no lance do ambiente subversivo em que ele me inseriu, tá ligado? Posso citar ainda que sou fortemente influenciado pela maloqueiragem de rua, dos botecos e do cotidiano do caótico transporte público de nossa cidade, e por aí vai.

 4. Em 2012 você foi convidado a escrever um texto sobre o Oscar Fortunato pra exposição “Das Ruas”, na abertura do Festival Vaca Amarela. Como você vê a importância de figuras como ele e outros “intervencionistas urbanos” para a construção de uma mentalidade pensante e combativa numa metrópole com cara, tipo, postura e padrão de cidade de interior como Goiânia?

Essa oportunidade de escrever para a exposição “Das Ruas” foi uma das coisas mais gratificantes que fiz no ano passado, poder resenhar sobre o Oscar Fortunato, Rustoff e o Marcelo Peralta foi ao mesmo tempo uma responsa ponta firme e satisfação plena, pois admiro o trampo que eles fazem já vem de uma data, então foi meio que uma espécie de homenagem tosca em forma de texto, já que foi muita coragem do Oscar ter me convidado pra rasurar essa expô (risos). E o trabalho que eles e outros fazem nas ruas de Goiânia eu enxergo como algo revolucionário, já que o fato de você tirar a atenção, ativar o imaginário e causar o questionamento naquela pessoa que está acostumada com a rotina do trabalho, do estudo, do confinamento do carro e tal, é um fato primoroso, pois são artes urbanas, expressões, protestos expostos de forma clandestina, ilegal, subversiva, que aquela pessoa vai ter contato e que pode fazer pensar diferente diante de vários fatos. Somos uma capital com características enraizadas do interior, e essas intervenções ainda chocam, mas esse é o primeiro passo de vários para que a mentalidade da nossa população possa mudar. Sair pregando cartaz por aí a favor do aborto, legalização da maconha, contra o barulho do carro de boi do divino pai eterno, contra a manipulação da TV Anhanguera e da Hora do Angelus torna-se cada vez mais necessário nesta cidade em que as pessoas ainda se orgulham em exibir suas unhas sujas de terras vermelhas, ou mais, que ainda dão aval para seres deploráveis do naipe de Marconi Perillo e Ronaldo Caiado.

 5. Genor, querido, pode ficar a vontade pra falar o que quiser.

Mano, valeu mesmo pelo espaço e pela coragem em me convidar pra esse forró, e no mais eu deixo o recado pra quem for ler isto, que compre materiais undergrounds, vá aos shows, produz algo subversivo e questione sempre os padrões estabelecidos nesta sociedade falida. E se você não gosta de mim ou do sítio licôur de tchorume, uma dica: seu nome já esta na boca do sapo, encomenda feita pelo Mestre Bita do Barão. Beyjos!


Um comentário:

  1. O licor é um blog antisemantico, anticlerical, antibundamolice. Entrevista-pílula mas de deixar até o mais néscio abobado. Firmeza a atitude desta força que é o pretexto de vagabundo em realiza-la. Até mais, seus podres! =)

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