Poucas vezes eu escrevo alguma coisa. Não por falta
do que falar, mas pela preguiça de expor o que talvez seja óbvio demais pra
quem lê. Nessa prevenção provavelmente equivocada de dizer o já dito esbarro
num vazio, justamente porque ninguém vai falar o que sinto além de mim mesmo.
Introduzi o texto com essa ladainha pra dizer que,
a seguir, você não vai ler o que já foi por aí publicado sobre o objeto –
Mapinguari, recém-lançado disco do Ressonância Mórfica -, e sim as
sensações que me ocorrem quando vejo a banda em ação, ouço as músicas ou trombo
o Marcão ou o Luiz por aí. Sendo chato em dobro, acuso o que segue de
“pré-resenha” ou um relato honesto sobre as coisas como elas são por quem
enxerga a emotividade, o contato próximo e o deixar-levar como matéria-prima
pra compreensão da coisa.
Mais que uma banda, percebo o
Ressonância, hoje, como uma instituição. Pessoas que vieram de longe em busca
de respostas ou fragmentos de mais-vida e que, entre os sucessos e fracassos
das pessoalidades, fincaram um pacto de união inquebrável e
agregador como razão pra seguir em frente. Inquebrável porque resistir tantos
anos de vida subterrânea não é fácil; agregador pela unanimidade alcançada
entre os adoradores da música feita com garra e paixão país adentro. E isso não
é pra qualquer um.
Feras.
Que remete ao Napalm Death todo mundo já sabe. Que
flerta com as vertentes x-y-z da música extrema, também. O que instiga é
lembrar que, mesmo diante dos mais variados obstáculos ou os mais temíveis
imprevistos – passar necessidade pra ver sua banda rodando o país significa o
que pra você? –, a disposição em ver as coisas acontecendo sobressai e traz
sentido, porque é de coração. Um desprendimento raçudo, corajoso, alheio aos
estereótipos pretensiosos ditados pelos modismos é o que sugere a obra, que tem
muito valor por si só, mas, se contextualizada aos passos dados ao longo desses
tantos anos de banda, pode ser visto como o mais pelejado e digno de
valorizações-mil lançamento do rock goiano. É de se admirar.
Um outro ponto que eu preciso resgatar
trata da importância que a banda teve na minha formação (sempre constante,
nunca bastante) e compreensão da música, inclusive quanto às barreiras geradas
pelos agrupamentos que giram em torno de um dado meio – o “underground”, nesse
caso. Foi num show no extinto Terra do Nunca o meu primeiro contato com o Ressonância e,
no auge dos meus 14 ou 15 anos, recém-introduzido e maravilhado com as
possibilidades que eu mal sabia existir em torno do hardcore, ver o Léo,
baterista da época, tocando aquela quebradeira toda com camiseta do Biohazard,
por idiota que pareça, mexeu comigo. A postura do Marcão e presença do Bruno,
um louco, também foram alvo da admiração e deram um nó na minha cabeça, afinal,
era tudo muito explosivo, muito “não-metal” para as minhas precoces percepções. Depois disso passei a acompanhar a banda, frequentar shows de
metal e, pouco tempo depois, envolto pelos intercâmbios com amigos daqui e de fora,
tudo fez sentido. Era tudo uma coisa só. Manter uma relação de amizade com o
Marcão me fez perceber que simpatia, compaixão e sorriso no rosto devem (ou deveriam) ser universais, independente do quão ilegível seja o logotipo da sua banda. Sou grato.
Quanto ao som, Mapinguari é o
resultado natural de um processo de evolução, iniciado lá atrás com Agregados Onímodos Malditos e hoje aprimorado a um nível de maturidade musical – e lírica
também, talvez a peculiaridade maior da obra – que flerta hardcore, grind e
death metal com a propriedade de quem sabe o chão
que pisa. Destaco os ótimos timbres do Luiz e a voz do Marcão, guias maiores do que o Ressonância foi, é e será (e isso não desmerece os trabalhos do Hemar e do Weyner, exímios em seus instrumentos).
Boa resenha rapah! Também fiquei de cara a primeira vez que vi o RM, foi num show que tocamos juntos em Taguá, por sinal foi o primeiro show que fiz com o Mob Ape. Bons tempos que não voltam mais!
ResponderExcluirAlex
Belas palavras, Julio. Emocionei ! São coisas assim que nos mantém firmes.
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